A Comissão de Acompanhamento e Fiscalização das Ações da Covid-19 esteve no Hospital José Mário dos Santos para tomar conhecimento do que provou a ‘causa mortis’ da comerciária de 31 anos
Manoela Xavier dos Santos, comerciária, casada e mãe de dois filhos, funcionária do Ponto Econômico, morreu na madrugada de sábado, 12/06, no Hospital José Mário dos Santos (Ouro Negro) de, segundo informação do novo diretor-administrativo da unidade, septicemia (infecção generalizada), mas o que levou a esse desfecho causou indignação para familiares que ontem mesmo sepultaram o corpo no Cemitério Recanto da Saudade, em Candeias, na Região Metropolitana a 46 km de Salvador.
A cidade vive a mesma séria crise na saúde há, pelo menos 3 anos e 10 meses, desde a intervenção decretada pela Justiça Federal, que apesar de nova gestão desde 1º de janeiro de 2017 não mudou o quadro de denúncias, queixas e reclamações de falta de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros), além da estrutura que apresenta alguma aparente melhora, mas totalemente insuficiente para chamar a unidade de “hospital”.
Nos últimos 3 anos, acusações de falta de raio X, de remédios, de material médico básico e de profissionais para atender a demanda da cidade de 87 mil habitantes fazem parte do dia a dia das redes sociais e dos meios de comunicação locais e estaduais.
E mesmo com a crise da covid-19 que já levou a administração a decretar isolamento social, fechamento do comércio, toque de recolher e “lockdown” (confinamento da população) com restrição de circulação de pessoas e veículos em alguns bairros da cidade, nenhuma medida concreta foi adotada pelo prefeito, que é médico, e pela supersecretária de saúde e assistência social (única na história da cidade e quiçá do Brasil) para ampliar o atendimento como a construção de um mini hospital de campanha para infectados com covid-19 (mais de 350 com 18 mortes) e outras dezenas de doentes ativos, alguns precisando de internamento que não deveria ser na mesma unidade de pessoas com outras doenças ou que precisem de emergência.
Se não tem unidade apropriada para o novo coronavírus houve a compra de 8 respiradores por R$ 1,4 milhão, dos quais 7 foram requisitados pelo Governo do Estado. Como a Prefeitura tinha 9, foram comprados mais 8, e 7 emprestados administrativamente, demonstra mais um erro de planejamento. Sequer os 9 que estavam na cidade foram todos usados ao mesmo tempo. Quando algum paciente necessita de unidade qualificada vai para hospitais de Salvador. Além disso, se apura a suspeita de superfaturamento na compra. Um respirador saiu por R$ 175 mil, um dos mais caros do Brasil.
Causa mortis
A morte da comerciária Manoela Xavier levou a Comissão de Acompanhamento e Fiscalização da Covid-19, da Câmara Municipal, integrada pelos vereadores Arnaldo Araújo, Edmilson Amaral (Mica), Fernando Calmon e Rosana Souza, além da presidente do Poder Legislativo, Lucimeire Magalhães, a ir ao Hospital Municipal (Ouro Negro) para ‘in loco’ averiguar as reclamações de familiares de “atendimento deficiente” e denúncias que circulavam nas redes sociais de que não havia equipamentos adequados, como o aparelho de ultrassonografia preparado nem o médico, para realizar o procedimento.
Dos três integrantes da Comissão de Educação e Saúde da Câmara (grupo permamente que tem obrigação de fiscalizar as ações do Executivo), apenas Rosana Souza compareceu. Nairvaldo Santana, (enfermeiro), e Reigilson Soares (empresário), não apareceram.
No hospital, foram recebidos pelo novo diretor-administrativo, Marcelo de Jesus Cerqueira, e pela supersecretária de Saúde e Assistência Social, Soraia Cabral, que, primeiro negaram as informações que circulavam na cidade e depois, alegando que em razão dos protocolos da covid-19, não permitiriam o acesso dos edis às instalações internas.
Num determinado momento, o novo diretor disse que não havia um pedido formal (burocrático ou estratégia para impedir) dos vereadores, que providenciaram o documento e aí o gestor hospitalar informou que o acesso seria dado apenas na segunda-feira, 15. Ambos demonstraram algum incômodo e, apesar de todas medidas de cautela, poderiam indicar um vereador para não ficar a dúvida do aparelho não está operando, como se tomou conhecimento de fontes do próprio hospital.
Terceira ida
A redação do Bahia On teve acesso a informações de pessoas que acompanharam a paciente de que a mesma esteve por 3 vezes em 8 dias nas unidades de saúde de Candeias e, em nenhuma delas, houve o diagnóstico adequado do quadro da paciente que, na madruga de sábado chegou por volta de 1h25, chegou ao hospital e morreu horas. Desta vez, o médico pediu a realização de uma tomografia, o que não é feito no Hospital Ouro Negro.
A redação aguarda pedido a ser feito pelos familiares (apenas eles podem fazer quando não há decisão judicial) do laudo médico, mas Manoela nas 3 vezes que foi pedir socorro, alegou os mesmos sintomas: forte dor abdominal e obstrução.
A Comissão dá Câmara vai dar continuidade ao trabalho de fiscalização para apurar, principalmente, as alegações de atendimento inadequado por 3 vezes em 8 dias que pode ter agravado estado de saúde da paciente e sido a “causa mortis” da paciente.