Anistiado em 1979, Fernando Gabeira vai na contramão dos colegas de canal ao questionar a dosimetria aplicada pelos ministros do STF
Em entrevista a Mara Luquet no canal ‘My News’, Fernando Gabeira questionou o rigor das sentenças do Supremo Tribunal Federal contra réus do 8 de janeiro.
“De uma certa forma, eu critiquei a dosagem das penas. As penas, aplicadas às pessoas que foram participantes daquele movimento, não correspondem tanto, no meu entender, a uma justiça. São um pouco acima do que deveriam ser aplicadas”.
Anistiado em 1979 após dez anos de exílio no exterior em consequência das ações contra o regime militar e participar do sequestro de um embaixador, Gabeira sugere que haja alguma benevolência com os manifestantes que invadiram e depredaram os palácios de Brasília.
“Eu acho que os vencedores tinham que ser um pouco mais generosos. Acho que era preciso para pacificar um pouco mais o país, é preciso um pouco também de generosidade dos vencedores”.
Fernando Gabeira critica a falta de atenção — inclusive de parlamentares e jornalistas — com as pessoas comuns presas e condenadas por participação no 8 de janeiro.
“Eu acho que eles lutam por anistia de um modo geral, trabalham muito nesse tema, pensam muito no Bolsonaro, que é um homem que tem poder, é profissional, tem filhos profissionais da política, tem excelentes advogados”, afirmou.
“Mas essa raia miúda, anônima, que ficou no processo, ninguém se preocupa muito com ela. Nem a imprensa, que eu acho que deveria se preocupar, no meu entender”.
Esquerdista em defesa de bolsonaristas
O jornalista admite o estranhamento que sua posição pode provocar. Ele sempre foi um militante da esquerda e trabalha na GloboNews, canal de linha editorial progressista, onde a maioria dos âncoras e analistas políticos concorda com o rigor das penas do STF aos condenados pelo 8 de janeiro.
“Para falar isso, ‘nossa, você está defendendo bolsonaristas’, é característica dos direitos humanos. Quando eu defendia a melhoria nas condições da cadeia, diziam ‘você está defendendo bandidos’. É uma coisa que você tem que aceitar e partir para frente”.
Sequestro em 1969
No livro “O que é isso, companheiro?” ele detalha o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick do qual participara às vésperas do 7 de setembro de 1969. O episódio foi justificado pelos sequestradores como uma tentativa de pressionar o regime militar. Por isso, ele nunca mais poderá ir para as Estados Unidos.
Fonte: Terra