No ranking geral, que combina indicadores de carga tributária e de desenvolvimento humano, o estado aparece na 24ª posição
Muita gente não sabe para onde vai o dinheiro que paga em impostos. Sequer se perguntam que parte desses recursos poderia ser revertida em saúde, educação, segurança e infraestrutura — elementos essenciais para o bem-estar social. Mas se resolvessem procurar saber, os baianos dificilmente ficariam satisfeitos com o resultado: a Bahia está entre os cinco estados que menos convertem a arrecadação tributária em melhoria da qualidade de vida da população, segundo a 3ª edição do IRBES (Índice de Retorno ao Bem-Estar da Sociedade por Estado), elaborado pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação).
No ranking geral, que combina indicadores de carga tributária e de desenvolvimento humano (IDH), o estado aparece na 24ª posição, atrás de vizinhos como Sergipe (17º) e Pernambuco (21º). Na prática, isso significa que, apesar de ser o quarto estado mais populoso do Brasil e detentor do 7º maior PIB nacional, a Bahia devolve muito pouco em termos de serviços públicos frente ao que arrecada.
O dado é ainda mais preocupante porque representa um retrocesso em relação à edição anterior do estudo. Em 2024, a Bahia figurava em 23º lugar entre os melhores estados. Agora, em 2025, caiu uma posição e se afastou ainda mais dos líderes. Para efeitos de comparação, no topo do ranking aparecem o Distrito Federal (1º), São Paulo (2º) e Rio de Janeiro (3º), todos com índices acima de 176 pontos no IRBES. Já a Bahia registrou 163,51, praticamente empatada com Alagoas (163,12), Pará (163,02) e Maranhão (162,08), este último na lanterna nacional.
O presidente-executivo do IBPT e um dos autores do estudo, João Eloi Olenike, explicou em entrevista à Tribuna da Bahia que o índice não mede causas específicas, mas deixa evidente os efeitos da má aplicação dos recursos públicos. “Infelizmente, através desse estudo, não temos condições de apurar as causas do desempenho das unidades da federação, pois o IRBES é apenas o resultado de um cálculo, que nos proporciona elaborar um ranking dos resultados obtidos”, disse.
Segundo Olenike, a posição negativa da Bahia e de outros estados do Norte e Nordeste se reflete diretamente na vida da população, já que impacta áreas estratégicas como saúde, educação e renda per capita. “Se levarmos em conta os itens que são levados em consideração para o cálculo do IDH, podemos dizer que as áreas mais afetadas são justamente saúde, educação e desenvolvimento econômico”, afirmou.
Questionado sobre as medidas que poderiam ser adotadas para reverter esse quadro, o especialista ressaltou que a solução passa por gestão mais eficiente e investimentos direcionados. “A melhoria no resultado do IRBES só pode ser atingida se os recursos arrecadados forem, em maior escala, investidos em projetos que venham a aumentar o IDH, o que demonstraria uma evolução na qualidade de vida da população. Isso pode ser feito através de uma melhoria no gerenciamento dos recursos, diminuindo gastos inúteis e investindo mais em educação, saúde e desenvolvimento econômico”, completou.
A comparação entre estados também mostra um abismo entre regiões. Enquanto os cinco primeiros colocados — Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — concentram os maiores índices de retorno à sociedade, todos acima de 172 pontos, os cinco últimos — Paraíba, Bahia, Alagoas, Pará e Maranhão — ficaram abaixo de 164. Na prática, é como se houvesse dois Brasis: um que consegue oferecer mais qualidade de vida a partir dos tributos arrecadados e outro que ainda não consegue transformar receita em bem-estar social.
Apesar da gravidade dos números, João Eloi Olenike acredita que o estudo pode servir de alerta e ferramenta de cobrança por parte da sociedade. “Nós desejamos que exista uma maior exigência, controle e transparência em relação à aplicação dos recursos oriundos da arrecadação tributária e que possam, definitivamente, gerar um melhor índice de desenvolvimento humano para a nossa tão carente população”, concluiu. Procurada, a Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, não se manifestou até o fechamento da edição.