Decisão foi aprovada por unanimidade; dirigentes pretendem oficializar em outubro o processo, que pode levar à maior bancada da Câmara
A Executiva Nacional do DEM deu o primeiro passo para a fusão com o PSL. O início das discussões para se unir ao partido foi aprovado por 40 votos favoráveis e nenhum contrário. Participaram do encontro líderes nacionais do DEM, como o presidente da sigla, ACM Neto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
O objetivo de dirigentes dos dois partidos é oficializar a fusão até outubro. Depois da reunião da Executiva, o DEM vai convocar para o próximo mês um encontro do Diretório Nacional, instância que tem mais integrantes, para votar internamente se vai embarcar no projeto de união com a outra legenda. Dentro do PSL também estão marcadas reuniões para debater o assunto, mas lá a fusão já está pacificada.
“Depois que vota isso (no Diretório Nacional do DEM) só tem parte burocrática mesmo. A ideia é ver se a gente consegue concluir isso agora em setembro ou outubro”, afirmou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ao Estadão. Mandetta é pré-candidato a presidente pelo DEM. Articuladores da fusão avaliam que a oficialização pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vai acontecer até fevereiro do ano que vem.
Se concretizado, o novo partido terá a maior bancada da Câmara, com 81 deputados, além de sete senadores, três governadores, o maior tempo de rádio e televisão na campanha de 2022 e os maiores fundos eleitoral e partidário. A presidência do partido deve ficar com Luciano Bivar, atual presidente do PSL, e a secretaria-geral com ACM Neto, presidente do DEM.
A união é vantajosa para o DEM por causa do aumento do fundo partidário e eleitoral. Para o PSL, os principais atrativos são a capilaridade regional e estrutura que a outra sigla pode oferecer.
Apesar dos avanços, para ser confirmada a fusão é preciso ajustar conflitos regionais. Estados como Rio, São Paulo e Pernambuco ainda não têm consenso sobre qual grupo político vai exercer o comando.
“Não se faz uma fusão sem que vários pontos sejam levantados. Algumas são resistências regionais por conta de sobreposição de projetos. O PSL estava pensando em um projeto com A e o DEM naquele estado estava pensando com B“, explicou Mandetta.
O ex-ministro também afirmou que é preciso definir a governança do novo partido e disse que isso vai requerer debates. Para o político do DEM, detalhes como nome e o número da legenda serão as últimas coisas a serem definidas. Para ajudar na decisão desses detalhes, os articuladores da fusão contrataram uma pesquisa, que começou a rodar na segunda-feira, 20.
“Tem, em um primeiro momento, uma boa vontade. Agora tem que ver como é a governança do novo partido, como delibera. O DEM é um partido muito de colegiado, o PSL é muito concentrado”, afirmou o ex-ministro da Saúde.
O ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) também afirmou que o aval dado pela Executiva Nacional representa o início do processo e que a fusão ainda vai passar por debates.
De acordo com políticos a par da união dos dois partidos, o líder da bancada na Câmara deve ser o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA). Elmar comanda as articulações para definir a fusão nos estados e é aliado próximo de ACM Neto.
O novo partido também quer atrair políticos insatisfeitos com as suas legendas e antecipar os efeitos da janela de troca partidária, período em que os eleitos para cargos em pleitos proporcionais – deputados federais, estaduais e vereadores – podem sair de suas siglas sem o risco de perderem o mandato. A janela está prevista para acontecer em março do ano que vem. Pelas regras eleitorais, um deputado pode trocar de partido fora da janela sem perder o mandato se a nova legenda escolhida for resultado de uma fusão.
Antes mesmo da oficialização da nova legenda, o deputado Celso Sabino saiu do PSDB e anunciou na semana passada que vai para o PSL. Sabino entrou em conflito com o comando tucano por conta da proximidade dele com o Centrão, que é base do governo de Jair Bolsonaro. O PSDB anunciou no início de setembro que é oposição ao governo. Outro insatisfeito com a legenda pela proximidade com o governo, o senador Márcio Bittar (MDB-AC) também afirmou a aliados que vai sair do MDB para se filiar ao partido resultante da fusão do DEM com o PSL.
Os organizadores da fusão também esperam filiar os deputados Felipe Rigoni (PSB-ES), Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA), Clarissa Garotinho (Pros-RJ), Daniela do Waguinho (MDB-RJ) e Capitão Wagner (Pros-CE), todos em conflito com suas respectivas legendas.
Por outro lado, também é esperada a desfiliação dos deputados ligados ideologicamente ao presidente Jair Bolsonaro. O grupo bolsonarista do PSL tem sido deixado de fora das conversas sobre a fusão.
“Eles não têm o que aceitar ou não aceitar. Eles seguem o projeto do presidente da República. Não tem poder de decisão no partido”, disse o deputado Júnior Bozzella (SP), segundo vice-presidente nacional do PSL. Para Bozzella, 25 deputados bolsonaristas devem sair do partido quando Bolsonaro definir por qual sigla concorrerá à reeleição. Mandetta também reprova o grupo bolsonarista do PSL. “Não dá. É jacaré com cobra d’água“, criticou o ex-ministro de Bolsonaro, que rompeu com o presidente ao sair do cargo.
A ideia é que o partido não apoie a reeleição de Bolsonaro. Procurando ter noção do tamanho do grupo adversário, o Palácio do Planalto acompanha as movimentações para a fusão. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem se informado com o vice-presidente do PSL, Antonio Rueda, sobre o processo.
Além de Mandetta, o novo partido trabalha com as candidaturas ao Planalto do apresentador José Luiz Datena, que está filiado ao PSL, e com a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O mineiro tem sido sondado para se filiar ao PSD, mas o comando do DEM tem usado a fusão e o tamanho do novo partido para tentar impedir isso